Tintas imobiliárias sustentáveis

Setembro 4, 2019

por Carlos Azevedo e Gabriela Andrade

Tintas à base de solos, normalmente tintas de produção artesanal, são fabricadas utilizando como constituintes básicos: solo, cola escolar e água. O grupo RECICLOS desenvolveu então uma tinta imobiliária que contém como componente pigmentante o rejeito de barragem de minério de ferro, conhecido tecnicamente pela sigla em português RBMF. Esse resíduo tem como característica ser bem fino como uma argila, tem estrutura cristalina e é composto quimicamente por óxido de ferro, óxido de silício e óxido de alumínio.

As tintas imobiliárias comerciais são compostas por pigmentos, solventes e resinas. A imagem abaixo descreve melhor a função de cada um desses componentes e como foram adaptados na produção desta tinta sustentável artesanal.

Tinta sustentável

As tintas fabricadas foram expostas a dois tipos de ambientes: ambientes internos e externos. Os ambientes externos são os sujeitos a ações intempéricas, como sol e chuva. As tintas ficaram expostas durante seis meses e apresentaram uma ótima resistência a essas intempéries. O gráfico a seguir mostra a variação de cor com o tempo das placas expostas. As unidades de variação de cor são medidas em ΔE, sendo calculadas pelo Software Delta-E Calculator (Colormine, 2017). Essa variação de cor se dá pela perda de intensidade da coloração; ou seja, a tinta fica com uma aparência mais desbotada com o passar dos dias e dos eventos climáticos ocorridos sobre ela. Dessa forma, percebe-se que as tintas de resina acrílica e cimento desbotaram mais que as tintas de PVA e cal, uma vez que as barras do gráfico são maiores, provocando maior desbotamento e consequentemente mais variação de cor.

Variação de intensidade de cor com o tempoUm teste de Resistência à Abrasão foi realizado após 72 horas da pintura da placa. Conclui-se que para resistência à abrasão, as Tintas Sustentáveis que possuem em sua composição PVA conseguem resistências baixas para uma possível necessidade de lavagem da superfície. Já as demais Tintas Sustentáveis, em um primeiro momento, não resistiriam a uma pequena lavagem da superfície, nem são aconselhadas o uso em ambientes onde ocorre contato direto de pessoas ou objetos na superfície, como corredores estreitos e halls. Essas tintas ainda precisam de ajustes para melhorar o desempenho em comparação às tintas comerciais. Cabe notar, entretanto, que os testes foram realizados após 3 dias da pintura, e sobre um substrato de baixa aderência. Como as tintas comerciais possuem COV’s (compostos orgânicos voláteis) em sua composição de modo a acelerar a secagem, possivelmente elas estavam em um estágio de cura mais avançado do que as Tintas Sustentáveis. Assim, esse resultado poderia ter sido melhor caso o ensaio fosse realizado após períodos mais longos e/ou em diferentes substratos.

Os testes realizados comprovam a eficácia do novo material produzido, mostrando mais uma vez a existência de soluções melhores que o despejo desses rejeitos em barragens.