Por Prof. M.Sc. José Maria Franco de Carvalho, Engenheiro Civil.
O termo sustentabilidade vem sendo largamente utilizado nos últimos tempos, algumas vezes de forma indevida ou com uma conotação puramente comercial e com pouca efetividade prática. Dessa forma, importa formarmos uma consciência crítica a respeito do tema a partir de uma compreensão clara do que significa sustentabilidade e suas implicações.
Os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentávelvêm emergindo ao passo que a humanidade vem se tornando mais consciente do seu impacto no mundo (Hutchins e Sutherland, 2008). A Comissão Mundial em Ambiente e Desenvolvimento (WCED) trouxe o tema para a agenda política mundial no chamado “Relatório de Brundtland”, em 1987 (WCED, 1987), o qual descreveu desenvolvimento sustentável como a “capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em satisfazerem suas necessidades”.
Mas desenvolvimento sustentável não é um conceito simples, pois possui uma natureza multidimensional. O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA) da Organização das Nações Unidas (UN, 2007), enfatiza que o conceito se apoia sobre quatro pilares: social, econômico, ambiental e institucional.
O pilar ambiental
A dimensão ambiental da sustentabilidade talvez seja a mais visada atualmente ao se avaliar um produto. Neste aspecto, um produto 100% sustentável poderia ser entendido como aquele que pudesse ser produzido, utilizado e descartado, indefinidamente, num sistema fechado amplo onde os impactos provocados pudessem ser compensados totalmente.
Um modelo muito próximo pode ser observado nos ciclos de vidanaturais, onde um sistema amplo, que chamamos natureza, se encarrega de garantir a sustentabilidade do planeta punindo os desequilíbrios e mantendo um modelo de geração, desenvolvimento, morte, decomposição e reciclagem da matéria.
Na prática, a produção de bens industrializados implica no consumo de recursos naturais (matérias primas, energia) e geração de subprodutos (emissões, rejeitos de processos, material descartado após uso). Dessa forma, uma chave para promover a sustentabilidade está em buscar suprir as necessidades de matéria prima explorando os subprodutos gerados, de forma a se consumir cada vez menos recursos naturais não renováveis e reduzir cada vez mais os impactos provocados pelos resíduos e emissões.
Esquema da Avaliação do Ciclo de Vida de um produto (ACV)
Raramente esse modelo é viável dentro do ciclo de um único produto, mostrando a natureza complexa da sustentabilidade, onde determinados processos venham a se utilizar de resíduos e emissões gerados por outros, em uma cadeia ampla e inter-relacionada.
O setor da construção civil figura como um dos principais consumidores de recursos naturais e energia, tendo em vista os grandes volumes empregados, e por isso mesmo tem um grande potencial de absorver rejeitos, inclusive de outros processos industriais.
O grupo RECICLOS vem se dedicando ao estudo e promoção de soluções tecnológicas e baratas para promover a utilização de rejeitos industriais de diversas naturezas na produção de materiais de construção inovadores, tecnicamente adequados e mais sustentáveis.
Fontes:
Hutchins, M. J., e J. W. Sutherland. “An exploration of measures of social sustainability and their application to supply chain decisions.” Journal of Cleaner Production, nº 16 (2008): 1688-1698.
UN (United Nations). Indicators of Sustaineble Development:Guidelines and Methodologies. 3rd. New York: UN, 2007.
WCED (World Commission on Environment and Development). Our commom future. Oslo: WCED, 1987.
Figura de capa: http://www.ideiasedicas.com/afinal-e-sustentabilidade/simbolo-sustentabilidade/
Figura ACV: http://blog.enciclo.com.br/entenda-o-que-e-acv/